A idéia que gerou o livro "música para..." agora continua em versão blog. Matérias, entrevistas, fotos, opiniões. O blog que contempla a música.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Crítica_O.C.O


Orquestra Contemporânea de Olinda

texto e fotos por Josie Moraes


Muito tem se falado da cultura pernambucana para o resto do Brasil nos últimos três anos. Um assunto agendado que tem trazido a São Paulo apresentações de artistas populares, principalmente da cena musical, antes não acessíveis sem alguma pesquisa mais aprofundada. A Orquestra Contemporânea de Olinda proporciona curiosidade já pelo nome. Ao batizar a banda de orquestra, remete ao agrupamento instrumental utilizado na música erudita. Com o conceito do contemporâneo revela uma quebra de antigos valores demonstrando uma preocupação com o novo, novas formas, com o pós- moderno. Ao juntar-se com o nome da cidade dá dicas e já indica traços da espécie de cultura popular que pode ser encontrada.

Muito além de uma banda que pega carona no manguebeat como herança de Chico Science, acaba refletindo na questão do popular que bebe na fonte do erudito. Uma orquestra pelo tamanho - conta com 12 músicos - e por também ter um pé na música erudita como influência de metais. Em linhas de origem cronológica - algo difícil de mensurar quando se trata de música - o próprio frevo, ritmo associado a Pernambuco, tem descendência da polca-marcha, executada pelos militares na virada do século XIX. Um ritmo reconhecido por guarda-chuvas coloridos cuja origem está atrelada a um universo erudito com forte influência de capoeira, dobrado e maxixe, ainda, segundo alguns estudiosos, de brincadeiras de cortejos portugueses.

Na obra de Orquestra Contemporânea de Olinda, o frevo funciona apenas como pano de fundo e não como elemento principal da banda até mesmo para fugir de um lugar comum. De qualquer forma, algumas músicas, principalmente as instrumentais apresentadas em shows, fazem lembrar o frevo de "tempo binário em andamento rapidíssimo", definido por Mario de Andrade. Os arranjos transmitem mais os elementos do coco, baião, forró, samba e não negam o jazz, batidas afrobeat e um certo suíngue de ska e reggae jamaicano. No palco, o conjunto de metais - trompete, sax alto, trombone e tuba - tem permissão para improvisações em escalas de jazz. Os riffs de guitarra com distorção e frases de baixo "funkeados" fazem sentido na construção da harmonia, como parte integrante dos climas criados para dar ênfase à melodia. As letras das composições com temáticas simples refletem um cenário nordestino urbano de pernambucanos apaixonado pela própria cultura em fases como "bandeira com estrela é sorte" e "toda parte que é forte representa o Norte" de "Joga do Peito". Expressões típicas e a oralidade popular são preservadas e fazem parte da métrica sem tornar em um linguajar incompreendido. Em "Tá falado", faixa que abre o CD, a interferência sem excessos de um DJ deve cair bem aos ouvidos do público jovem, apenas como um tempero que combina com o sotaque de tradicional do vocalista. Destaque também para a participação da cantora revelação Issar de França que lembra mais o estilo de coquistas.

Dos 12 músicos, seis são integrantes do olindense Grêmio Musical Henrique Dias. Tem sob comando dos arranjos de metais o maestro Ivan do Espírito Santo, que aprendeu a tocar na agremiação e é apreciador de música clássica. Cada músico é um personagem de papel importante na construção do primeiro CD, assim como nas apresentações ao vivo em que se vestem de roupa tão colorida quanto às pinturas das casas de Olinda na ladeira do Amparo. Maciel Salú empresta às músicas o sotaque e a interpretação simplista das letras e ainda toca rabeca nos shows, como bom filho de Mestre Salustiano. O cantor e compositor Tiné dá um ar de frescor com uma voz suave e exploração de graves e agudos. Gilú, na percussão, é afrobeat puro, um menino que brinca de tocar, com prazer nítido nos olhos fechados sob a luz dos holofotes.

Cada vez mais, as manifestações culturais de Pernambuco penetram a mídia e entram na cabeça de antigas e novas gerações. Algumas atuam com proposta de se tornarem conhecidas em um caráter regionalista, promovendo até um efeito de salvaguarda. Outras se destacam justamente por fundir inspirações tradicionalistas com melodias modernas sem criar a atmosfera da imposição de uma cultura de massa, imposição essa tão criticada por Tinhorão. Ela é porque é, sem pretensão de ser. É da mistura que nasce à hibridização, consciente ou inconsciente. Consciente quando é fabricada para a repercussão da discussão do contemporâneo cheio de raízes e, inconsciente, quando funciona como parte de um processo natural e espontâneo de criação do músico e suas influências.Talvez por isso, se destaque tanto os músicos pernambucanos. Da antítese do urbano e rural, do espírito de contraste ex-colonizado afro-brasileiro presente nas 19 micro-regiões tão próximas de Pernambuco. Colhem-se frutos inevitáveis dos que nasceram em meio a toda aquele caldeirão de ritmos.

Ouça agora: http://www.myspace.com/orquestracontemporaneadeolinda

Um comentário:

Anônimo disse...

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