A idéia que gerou o livro "música para..." agora continua em versão blog. Matérias, entrevistas, fotos, opiniões. O blog que contempla a música.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Rapidinha

Reflexões musicais {no trânsito}



Texto e fotos por Josie Moraes

Quando a gente compra um som para o carro, acha que vai ouvir todas as músicas do mundo no trânsito. Uma empolgação que dura semanas ou meses. Pura ilusão. Verdade seja dita, é possível ficar semanas ouvindo o mesmo CD ou se pegar ouvindo CBN por preguiça de escolher uma música ou estilo. Porque se música é o barulho da alma, a escolha varia de acordo o estado de espírito da alma naquele dia. Aí tem que pensar muito. Cansa!

Com o MP3 e o Ipod conectados no som do carro fica mais fácil escolher. É fato.
Mas quando não resta saco, o jeito é tentar ouvir rádio. Ao apertar os botões. Meu Deus! Legião Urbana, Cazuza, Nirvana. Nada contra eles. Aliás, tudo a favor.

Mas é impressionante como certas músicas parecem que NUNCA vão deixar de tocar. Será que estes seres pagam jabá lá do além? Não é possível! Eles fizeram um acordo de música imortal com os donos das rádios. Só pode.


Com tanta banda nova (talentosa ou não) por que ainda toca "Teatro dos Vampiros" nas rádios ? Não vejo sentido em ouvir a mesma coisa, toda semana. "Todo dia ela faz tudo sempre igual".

Tá, tá. Tudo tem sua razão neste mundo. Eu sei, eu sei. Que explique o Tutinha da JP.

Mas minha velha pergunta retorna aos meus pensamentos no meio do trânsito: Paulo Coelho vende mais porque é escritor ou é escritor porque vende mais?

terça-feira, 5 de maio de 2009

Convidada especial



.o homem coletivo sente necessidade de cantar.

Texto e fotos por Jú Mancin*

E foi isso o que eu vi em vinte e quatro horas de música espalhada pela babilônia paulistana. A cidade que emanava música na quinta edição da Virada Cultural.
Comigo começou assim, no palco do Arouche, com um Benito de Paula que me pareceu meio ébrio e cantou lindamente o refrão que dizia "eu vou ficar aqui, até madrugada chegar e trazer você pra mim". E eu lá, cercada por velhinhas punks do Arouche, que se espalharam na rua, diante do palco, com cadeiras de praia e roupas quentes.

No palco da música brega. "Gosto de você e que se dane o mundo". Vi o carioca dedilhando no piano aquele samba com uma pitada de jazz. Coisa de classe. E a despeito do chororô característico do cara, o meu evento começava com música feliz. Para reforçar a minha idéia de ebriedade do cantor, antes do final triunfal, com "amigo Charlie Brown", ele fez uma justa e saudosa homenagem a quem merece. Mandou "me dê motivo", cantei feliz, do começo ao fim.
Hora de migrar de palco. Mudar de ares. Caminho feliz, pela cidade iluminada, colorida. Atravesso a Ipiranga e a Casper líbero. TOCA RAUL! O palco mais legal do evento. Toda a leva de malucos.beleza cantando juntos. Deslumbrada ouvi a Sociedade da Grã-ordem Kavernista apresentando a Sessão das dez com um Ed Star estrelado nos vocais.

Volto à Ipiranga, já me preparando para o melhor da noite. Cruzo a República, prefiro não entrar. Muita gente. Palco São João, o maior do evento. Encontro um Camelo em seu último trabalho, bonito! Ouço de longe. E ouço feliz, um pequeno passeio pelo repertório da minha amada Los Hermanos. Sorrindo me lembro que a estrada vai, sim, além do que se vê.

Antes do clímax da noite, mais um passeio pelas ruas de São Paulo. Uma aventura na Praça da República, entre punks e velhos roqueiros de jaquetas de couro. Era hora das Velhas Virgens. Não resisto à tentação da cubanajarra. Me embrenho ali, no meio da multidão. Com medo, pela primeira vez na noite. Me sinto sufocada ao ar livre. Um clima tenso envolve a atmosfera do palco do rock. Não! Não é minha vibe. fujo de lá…

Volto à São João. Era hora do Instituto Racional com Bnegão, Thalma de Freitas e [deus?!] Carlos Dafé fazendo uma releitura do Racional Superior. Sofremos interferência do cosmos. Subimos ao alto e constatamos, ali, bem ali no centro de São Paulo, que o único caminho a ser seguido, é o caminho do bem. SEBASTIÃO RODRIGUES MAIA é REI! We´re gonna rule the world… Depois desse, parei. Meu coração ficou vagando entre tantas possibilidades… Me rendi à energia racional. Vi um amanhecer dourado e adocicado, bem ali, na Ipiranga com a São João.

Às nove da manhã fui presenteada com a energia que vem da terra. Vi Lirinha recitando seu cordel e enfrentei a matadeira. Matei a saudade vestida de vermelho. Um show perfeito para começar bem o dia. Visceral!
Meio-dia. Me posiciono estrategicamente no restaurante da Vovó Helena, bem no meio da Av. São João, bem de frente pro telão. Era o Baleiro dos meus sonhos. Outro show delicioso, com aqueles repertórios pra cantar todomundojunto. Nessa hora me dei conta de que estava feliz. Feliz a ponto de mandar flores ao delegado, de bater na porta do vizinho e desejar bom dia e de beijar o portugês da padaria. Numa homenagem engraçada, Zeca Baleiro fez a São João inteira [imeeeensa] entoar o hino brega da paixão. Erámos todos luz, raio, estrela e luar…e ele, nosso iá-iá, nosso iô-iô.

Três da tarde. Expectativa…
Os Novos Baianos entram no palco, com Baby de cabelo pink e Pepeu, destruindo nas distorções de guitarra. Paulinho Boca de Cantor, Luis Galvão, Jorginho e Didi Gomes completam a cena. Falta o Moraes? É, falta! Mas, com todo respeito, naquela hora não nos fez tanta falta. Nosso presente da tarde de domingo.

Todos afinadíssimos, com um repertório pra lá de inspirado, soltaram logo no começo do show, a espetacular "Dê um rolê". [eu sou amor da cabeça aos pés!]. O mistério do planeta. Tinindo trincando e A menina dança, sim, a menina sempre há de dançar… Dessa vez a homenagem foi à cidade. "Sampa" foi executada por artista e plateia. E eu arrebatada. As lágrimas rolaram soltas do príncipio ao fim. Os Novos Baianos te puderam curtir numa boa, e nós, os pobres mortais, agradecemos. O gran finale, contou com uma ajudazinha dos céus… O tempo que seguia encoberto e meio frio, fez brilhar o sol, no justo momento do refrão "abre a porta e a janela e vem ver o sol nascer". Aplausos pros novos, Aplausos pros céus…


Encerrei minha jornada no TOCA RAUL!, Marcelo Nova e Os Panteras debochando do mundo e alertando… O problema é muita estrela pra pouca constelação!

Quatro milhões de seres andantes passearam pelas ruas de Babylon em 24 horas. Quatro milhões de seres cantantes. Entre fogo, malabares, violões… Quem não tinha colírio usava os óculos escuros. Essa foi a virada que virou meu coração e fez mágica com a nossa velha e sofrida São Paulo do trânsito e do barulho.

Não. Não era o último dia de nossas vidas. Era mais um dia em nossas vidas. Um grande dia, com uma grande noite no meio. Violência e vandalismo, abuso de poder e todos os males desse monstro onde vivemos, isso é parte da rotina. Não me admira que tenha acontecido numa noite de multidão nas ruas. Mas a bola da vez pedia PAZ. A gente não quer só comida. A gente quer comida, diversão e arte!


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* Jú Mancin é uma menina cuja filosofia de vida (vivida na prática) é "All you need is love". Não é jornalista (sorte dela), nem formada, nem pós-graduada, mas é dotada de um senso crítico muito enriquecedor. Foi convidada para escrever no "música para blog..." justamente por isso. Dona de um incrível pique para se abastecer de arte, ficou virada na virada por amor à música. Viciada em comprar livros, também tem blog. O Café e Cigarros na Terra do Nunca (que passa a estar linkado aqui).